Definhar
Eu segurava sua mão enquanto a sentia definhar. A vida que por tantos anos viveu estava, lentamente, sendo levada embora. Eu não podia fazer nada. Estava impotente e observando seu corpo tornar-se cada vez mais frio, como o inverno que nos cercava.
Olhei em seus olhos e presumo que a última coisa que os seus olhos viram foi a lágrima que começou a escorrer pela minha face. Havia um resquício de sorriso no seu rosto e aquela imagem está presente em minha mente até agora. Era um sorriso de alívio, pois sua dor estava indo embora, embora estivesse indo junto da sua vida. Aquela lágrima quente pingou em sua mão já fria e esfriou a minha vida para sempre. Meus olhos se fecharam e, como a noite tempestuosa fora do seu quarto, eu comecei a chover.
Meu coração, um lugar sempre tão tenro e harmonioso diante da sua presença, aos poucos tornava-se insalubre. Eu estava conectado a você mais do que apenas por laços de sangue. Eu gritei pedindo para que você ficasse, mas naquele momento você não me ouvia mais. Alguém me segurou e me puxou para longe do seu corpo e eu não consigo me lembrar de mais nada daquela noite.
No dia seguinte, ao vê-la em seu leito final, meu coração implodiu em meu peito. Os estilhaços dele cravaram-se nas paredes internas de meu peito, fazendo com que cada movimento meu, desde aquele dia, causasse novos ferimentos que ninguém, jamais, conseguiu ver. Você estava tão linda... parecia estar viva, pois, em vida, há tempos não ficava tão bonita. A doença que a levou embora tinha, há tempos, levado a sua vontade de viver. E ela se impregnou em minha alma, pois a minha vontade de viver foi enterrada contigo.
Eu prometi que seria forte, mas forte não consigo ser.
Eu desejo, anseio a morte. Eu preciso estar com você.
Edimar Silva - 24/05/2019
"Oh,. Deus, eu sinto falta do seu toque
Do jeito que você me mantém seguro
Oh, você não pode ficar mais um pouco?
Você não vai ficar? Por Deus, por favor, fique..."