Uma provável carta de suicídio | Edimar Silva
image1 image2

OLÁ, ME CHAMO EDIMAR SILVA|BEM-VINDOS AO MEU SITE|ESTE É UM PEDAÇO DE MIM|MAS TUDO QUE SOU

Uma provável carta de suicídio


Há uma música triste tocando e ela é a trilha sonora para estas palavras que está prestes a ler. Antes de chegar na parte importante deste texto, gostaria de salientar que as palavras, frases e parágrafos que estão por vir não são apenas meras junções de letras de uma mente criativa, porque, na verdade, não há criatividade alguma nas coisas que escrevo. Tudo que aqui está é minha vida. Então, caso a verdade lhe assuste ou tiver algum receio de ler coisas que poderão fazer sua alma arrepiar ou o coração congelar, eu peço, de verdade, que pare por aqui. Nunca fui tão sincero em meus textos como serei neste e isso poderá fazer com que, caso você me conheça, você acabe me conhecendo ainda melhor. Ou poderá, então, fazer com que jamais queira ter me conhecido. A leitura do que está logo abaixo é recomendada apenas para pessoas que não temem a crueza, a aspereza nem a angústia que podem assolar uma alma.
Eu gosto da chuva. Talvez eu já tenha falado isso para você, ou talvez simplesmente tenha percebido por alguma dica que eu possa ter dado em algum texto ou algo que eu tenha falado. O que você não sabe e nunca soube (ou nunca quis saber) é a razão desse meu desejo pela chuva ininterrupta. Eu amo ver a chuva caindo. Eu sinto como se o céu chorasse comigo, chorasse por mim. Sinto como se minha alma se externasse e derramasse por sobre as pessoas que me veem e não enxergam todas as lágrimas que nunca cessam dentro de mim. Gosto da chuva porque ela, em partes, faz com que as pessoas se pareçam comigo: presas, com desejos de coisas que não podem fazer, entristecidas por terem empecilhos que as atrapalham de realizar as coisas mais triviais. É, de certa forma eu gosto da chuva porque ela nos iguala. Mas há um ponto negativo nisso tudo. A chuva, também, traz algumas coisas boas, como célebre imagem de um casal se beijando na chuva. E, neste momento, embora o desejo de parar de escrever devido ao pesado sentimento de tristeza que se debruça sobre mim, vou me manter firme e ser ainda mais sincero do que já estou sendo. Qualquer ação realizada entre casais na chuva (ou fora dela, como queiram, embora o tema do parágrafo seja o supracitado) jamais pude ou poderei realizar. E é aí que o meu gostar da chuva se dissipa. Embora ela faça com que as pessoas se pareçam comigo, ela também faz com que algumas pessoas façam coisas que jamais poderei fazer. E então eu me pergunto: por quê? Eu gosto da noite. Gosto da noite porque o silêncio faz o mundo parecer meu peito, já que meu coração bate tão silencioso que sequer ecoa lá dentro. Não há por quem (ou por que) bater. Gosto da noite porque no meio da escuridão eu me sinto em casa. No breu do meu quarto, tão sozinho quanto estive por toda a minha vida, sinto-me seguro. Sinto-me seguro ao saber que não verei a felicidade alheia. Sinto-me aliviado por não testemunhar carícias,carinhos, abraços e beijos. Ou seja, não ver o impossível para a minha vida faz da minha vida um pouco mais tolerável. Mas enquanto tento me convencer de que a noite é boa, de que a escuridão é segura e que, na minha solidão, estou bem, minha mente começa a agir. E os pensamentos vêm como uma enxurrada de dor e tristeza que levam embora a segurança que eu tentava me convencer de que tinha encontrado no apagar das luzes. Imagens de pessoas se divertindo, pessoas que conheço com seus maridos / esposas / namorados / namoradas tendo momentos românticos, jantando juntos, fazendo coisas juntos, sendo felizes... tudo que, como dito anteriormente, nunca tive e nunca terei. Nesse momento é como se ácido se dissolvesse em meu peito e espalhasse pelo corpo inteiro a dor de não ser nada para ninguém. A dor de uma solidão tão pura (e, de tão pura, não tem cura) que ninguém que leia estas malditas palavras poderá (sorte a sua) compreender. Na solidão escura do meu quarto eu chovo. E encharco-me desejos irrealizáveis, de sonhos inatingíveis e devaneios insatisfazíveis. Eu gosto do frio. Gosto do frio porque não o sinto. Gosto do frio porque meu coração, minha alma, meu eu, são iguais ao inverno. Pessoas normais precisam de casacos, blusas, jaquetas, enfim, quaisquer coisas que as aqueçam. Eu, em contrapartida, não posso ser aquecido. Não há peça de roupa que possa apaziguar o inverno que tomou conta de mim. E eu, ao ver que as pessoas se enchem de blusas e preferem ficar no calor de seus lares, sinto que elas, enclausuradas e tomadas pelo inverno, são como eu. No entanto, ao lembrar que essas mesmas pessoas, eventualmente, terão calor humano para se aquecerem, terão quem as abrace, quem as acaricie e quem as acolha em momentos de carinho, o frio que há dentro de mim se expande de maneira inexplicável. Nesse momento eu começo a tremer e nada é capaz de diminuir os tremores que abalam meu corpo inteiro. Não dispor de um único momento de carinho que poderia acabar com o inverno que se instalou em minha alma me faz tremer até mesmo no calor do verão. Não, isso não é exagero. Eu já cansei de ir dormir tremendo de frio em dias quentes por causa do imparável inverno solitário que acometeu minha existência. Se você leu até aqui, antes de continuar, gostaria de lhe dar os parabéns. Gostaria, também, de agradecer e, embora eu tenha certas dúvidas de que você tenha entendido completamente o que é ser eu, pelo menos eu lhe congratulo por ter tentado. É, estar sozinho fez com que a chuva, o a escuridão e o frio se apossassem de minha alma. E quando eu penso e lembro que as pessoas normais não estão sozinhas e estão vivendo tudo aquilo que sempre sonhei, a tempestade, o breu e a nevasca se ampliam de maneira inexorável. Se ainda lhe resta alguma dúvida, serei sucinto: viver a vida desconhecendo um único ato de carinho me tornou um ser repugnante. Ou, talvez, por sê-lo que vivi e morrerei sozinho. Não, não é que eu queira morrer. Eu gosto da vida, mas não das coisas que vivo. Porque a solidão não é algo que deve ser vivido. É algo para ser apreciado moderadamente, pois o excesso dela pode matar. E quando eu morrer de solidão, bem, você agora sabe o porquê.


Compartilhe:

comentário(s) pelo facebook:

CONVERSATION

2 comment:

  1. Realmente não é fácil, ninguém nasceu para estar sozinho, a sociologia diz que nós já nascemos seres sociais e por esse motivo temos a necessidade de estar com pessoas.. mas isso pode mudar, pode parecer que não, mas vc não é a excessão que nasceu para ficar sozinho e indigno de felicidade, eu sei disso, pois já pensei dessa maneira.

    ResponderExcluir
  2. cada letra foi vivida tão intensamente por min, o sentimento de dejavu me veio e a lágrima solitária desceu me relembrando a dor da solidão que antes me possuía, o sentimento é forte e se agrava ao ponto de nós acostumar com ele, e isso não é nada bom. Enfim, espero que fique bem querido autor.
    Caso queira conversar, estou aqui <3

    ResponderExcluir

Colabore ao comentar :)