O Anoitecer do Ser
A escuridão é o gatilho para sentimentos perigosos. Muitos têm medo. Medo do escuro. Não ver algo que pode nos fazer mal é, de fato, estarrecedor.
Quando o Sol se põe, os medos se levantam.
O problema é que, dentro da mente, o breu reina. E ele toma conta dos arredores, não importando o quão iluminados sejam. Às vezes torna escuro o mais brilhante dos dias.
Neste quarto, os gritos da solidão reverberam.
Nesta mente, os clamores permeiam: "salvem-me!"
Nesta mente, os clamores permeiam: "salvem-me!"
Mas como alguém poderia salvar, se não há ninguém?
Nem mesmo os monstros que se afugentam na escuridão querem fazer companhia. Eles temem a mente que os criou.
Eles temem o monstro maior, que os mantém vivos.
Eles temem o monstro maior, que os mantém vivos.
Ah, a solidão... ela, de certa forma, não deixa de ser um monstro também.
É um monstro de proporções incomensuráveis. Ela é dona daquele que mantém preso dentro dela. E o protege de tudo. Afasta toda e qualquer alma que queira se aproximar.
Nesta escuridão, a Solidão reina absoluta.
Aos poucos, a solidão transforma em monstro aquele que está enclausurado nela.
As horas passam e a dor que consumia a alma não permitiu que o corpo dormisse. O Sol começa a raiar, outra vez.
A escuridão se dissipa. É dia. Está claro.
Mas aqui dentro... ah, aqui o breu permanece. Não há luz que atinja o âmago, é um lugar onde só a escuridão é capaz de chegar.
Os monstros agora correm, livremente, aqui dentro.
Preciso de um abraço.
Eles vêm. Cada monstro tem o meu rosto. O único abraço que sempre terei.
Cada abraço rasga um pedaço de mim. O toque deles me desfaz, embora eu continue, aparentemente, inteiro.
É frio.
É gelado.
É assustador.