Fim Anunciado
A dor de uns é entretenimento de outros. Quantos escritores, cantores, artistas plásticos e inúmeros outros não colocaram suas dores para fora através das diversas maneiras que encontraram para expô-las? Às vezes esquecemos que essa dor existe, principalmente pelo fato de encararmos as coisas que eles criam como "arte", chamamos de "inspiração" algo que, na escuridão da noite, nada mais é do que uma dor pungente e dilacerante.
O que não vemos, não sentimos. O que não sentimos, por consequência, não nos importa. Mas é aí, exatamente nessa tênue linha, que o perigo mora. É essa a linha que divide aquilo que chamamos de arte de uma vida cruel e dolorosa. Ou de uma morte cruel e dolorosa, pois apenas quem sente no âmago da alma essa maldita dor sabe que morrer não soa tão ruim diante daquilo que se vive, que se revive todos os dias, que mata pouco a pouco todos os dias.
Isto não é um texto literário, assim como nenhum outro jamais foi. Assim como qualquer poema jamais foi meramente um poema. Não me considero escritor, não posso me considerar qualquer coisa que seja porque tudo que faço é, tão somente, fazer a dor que toma conta de mim tomar forma de palavras. Isso não é arte, isso não deveria ser arte. Isso não é bonito, isso não é inspirador. Isso é torturante, isso é morrer afogado em parágrafos que não são compreendidos.
Isto não é nada. E o fato de ser nada é ser o que sou.
Isto é o prenúncio de uma morte, é um fim anunciado.
Você que lê, portanto, recebeu o aviso e, em algum tempo, receberá a notícia de que minha dor terá deixado de ser apenas entretenimento. Ela terá, enfim (e me traz alívio saber e dizer isso), tomado forma e tamanho: 2,10 m por 80 cm.