Já não encontro mais palavras. Passei dias tentando começar este desabafo, escrevi, reescrevi e apaguei, mas tudo em vão. Tudo para dizer mais do mesmo, expressar o que já fora várias vezes expressado, dizer o que a alma cansou de tentar dizer. Estas palavras, portanto, vêm do mesmo lugar de onde as outras vieram, embora tragam muito mais amargura e dores junto delas. Isso tudo porque, desde a última vez que meu coração usou palavras para se expressar, muitas e muitas dores se sobrepuseram às já existentes e, por conseguinte, tornaram-me o resquício de mim que hoje sou.
Aproximar-se de um aniversário, para algumas pessoas, é sinônimo de alegria. Alegria por mais um ano vivido, por objetivos alcançados e afins. Para outros, é um pesadelo terrível, tal qual cada novo alvorecer. Mesmo ressaltando que o desejo é de não comemorar aniversário (não por não fazer festa, mas por não completar uma nova idade), a insegurança de como fazer para impedir que o aniversário chegue ainda me mantém sobre a terra, este limite que me separa do buraco que tanto quero preencher.
A angústia é inevitável. O reflexo do fracasso que me olha de volta e chacoalha a cabeça em desaprovação é a inerente e inseparável imagem do desejo de partir. Por tanto tempo não me olhei no espelho e, hoje, tudo que vejo são cicatrizes. Não me reconheço mais - e talvez isso seja bom. Talvez ter deixado de ver a face do medo possa me libertar do medo de tentar ir embora. Ao passo que olho para o espelho, olho, também, para o passado. E lá encontro os rastros de sangue que apenas deixarão de existir junto de mim. É decepcionante transformar-se em sua própria assombração. É aterrorizante perceber que aquele eu lá no passado distante transformou-se num retalho de carne humana cheio de cicatrizes e feridas. Nunca imaginei que uma pessoa poderia chegar ao ponto de apodrecer em vida e ainda assim ser capaz de ostentar um sorriso tão bem fingido que ninguém desconfia da dor profunda escondida atrás dele.
Estou em decomposição há muito tempo e tenho poucos dias para preparar este corpo para o sepultamento. Caso contrário, o odor pútrido se alastrará por todo mundo e todos, inclusive você, tornar-se-ão eu.
Se eu não conseguir me matar, me mate. É para o bem maior.
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