O Vale Das Sombras | Edimar Silva
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O Vale Das Sombras


As cicatrizes em meu braço dizem que não sou mais humano. Eu sempre soube disso, embora não saiba quem me cortou para escrever essa frase. Estou num desfiladeiro que parece não ter fim, sob uma névoa e cercado por um ar sombrio.

Uma única estrela no céu. O frio toma conta do meu corpo, eu começo a tremer. De certa forma eu até gosto, afinal, havia anos que não sentia nada. Nem mesmo o frio. Minhas mãos, trêmulas e geladas, sangram. Sinto um incômodo na boca e cuspo algo estranho.

Pego aquilo que saiu da minha boca e percebo que é uma espécie de mapa. Não que eu precisasse de mapa, afinal, havia um único caminho a seguir. Ao menos me serviu para saber que lugar era aquele: Vale das Sombras.

Sussurros ao longe me davam a certeza que eu não caminhava sozinho. Mas demorei para perceber que, quem me acompanhava, era a morte. Melhor dizendo, várias mortes. Como se várias entidades com o intuito de levar minha alma embora me seguissem, batalhando entre elas para saber quem sairia com o prêmio.

Eu não valia nada, tampouco minha suposta alma. Por que tais seres desejavam tanto tomá-la de mim?

Adiante, encontro uma placa, na qual leio:

“Esse caminho não tem fim. O fim deste caminho é o seu próprio. ”

Ou seja, eu não morreria a não ser que fosse pelas minhas próprias mãos. Cabia a mim se perambularia eternamente ou poria fim à minha existência.

Conforme caminho, as opções vão se oferecendo. Árvores com forcas, armas de fogo, objetos pontiagudos, galões de gasolina. Tudo que eu precisava para morrer.

Resolvo continuar caminhando, ignorando todos os métodos de me matar que o lugar me oferece.
O frio se torna quase insuportável, eu morreria, se não tivesse de me matar.

Anos caminhando. Anos sofrendo. Anos de dor.

Os sussurros das mortes me assombram. Eu sei que, cedo ou tarde, vou sucumbir. Mas morrerei à minha própria forma.

Enterro o punho em meu peito e arranco meu coração. Aqueles seres que me seguiam começam a me rondar, sinto a respiração ofegante e a saliva deles respingando em mim. Atiro meu coração para longe. Alguns seres vão atrás do meu coração, enquanto os outros, como abutres, esperam meu corpo cair, inerte, no chão.

Mal sabiam eles que eu não tinha mais alma. Morreram de fome.

E aqueles que comeram meu coração também morreram, infectados por uma doença com meu nome.

Malditos.

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