Prometi que daria adeus, mas peço perdão por quebrar a promessa. Não posso mantê-la, mas isso é para o seu próprio bem. Acredite, será melhor assim. Tal qual minha partida será melhor para todos.
Lembra daquela noite, sob a chuva, que corremos para nos proteger enquanto ríamos ainda do filme que havíamos visto juntos? Eu quero que mantenha essa lembrança acima de todas as outras.
Sei das vezes que fiz você chorar, mas não quero que chore desta vez. Eu estive distante por muito tempo, talvez sequer lembre do último abraço que te dei. Talvez nem se lembra do som da minha voz... mas não posso te culpar por isso. Eu (presumo) construí o muro que nos separa, eu me afastei para te proteger de mim... e das consequências que isso traria.
Apenas pense que, assim como antes, estarei distante. Desta vez não haverá volta, desta vez, nesta carta será, a última vez que lerá o meu nome escrito pela minha mão, será a última vez que terá algo de mim.
Até esta carta chegar às suas mãos eu já terei partido. Por esse motivo eu peço que não chore. As lágrimas não me trarão de volta, assim como não trouxeram de volta a felicidade que foi embora da minha vida e nunca mais voltou.
Arrependimentos são inúteis. Eles trazem uma culpa não merecida e uma dor quase insuportável.
Portanto, ao ler isto, sorria. Apenas sorria. Sorria sabendo que fui em busca da felicidade que se ausentou da minha vida. Sorria sabendo que a dor que me consumia por dentro, enfim, acabou. Sorria sabendo que nunca, jamais, voltarei a te machucar. Sorria sabendo que meu nome não estará mais envolto em solidão e sofrimento.
Sorria porque acabou.
Sabe, eu tentei até o último segundo procurar uma razão para não ir embora, mas não achei. Não havia um único porquê que me prendesse a este mundo. Continuar aqui para machucar mais e mais quem amo não me parecia uma decisão acertada. Melhor um baque que acaba com tudo e traz uma "dor" única do que várias e ininterruptas dores que ferem cada vez mais.
Independente disso, não acho que vá doer tanto assim a minha partida.
E, se doer, o que poderei fazer? Não me apeteceria viver para ser mártir da felicidade alheia. Tudo que doeu em mim sempre foi menosprezado por pessoas como você, então quem sabe você, com sua habilidade de menosprezar a dor, possa fazer isso com a sua e viver sua linda vida estando sempre bem. Afinal, foi o que sempre importou, não é verdade?
Desculpa, não queria dizer isso. Esqueça o parágrafo anterior. Mantenha em sua mente apenas as lembranças boas que tivemos.
Apesar que... na verdade não tivemos lembranças boas. Aquilo que citei no começo foi, na verdade, um sonho meu, não é? Eu comentei com você e você riu de mim...
Agora não importa. Eu não estou mais aí e você não está aqui.
Agora não existo mais para você. Assim como, muitas vezes, você fez eu sentir que não existia.
Mas, desta vez, para sempre.
Para sempre.
Fica bem. Você merece.
E, quando me virou as costas, disse, nas entrelinhas, que eu não merecia.
Não direi adeus. E nem preciso, não é mesmo?
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